quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Reciclagem!!

Pupilo curioso intelectualmente:
- O livro até que é interessante!


Mestre com grande histórico de combate:
- Você o devorou em uma noite só! Também acho que se só tivesse revista velha você leria tudo, do expediente à contra-capa...


Pupilo curioso intelectualmente:
- Os destilados acabaram uma noite antes...

Mestre com grande histórico de combate:
- Aposto que você preferia ler qualquer coisa a ter que ouvir e responder àquelas pessoas. Não conseguiu esconder sua contrariedade...


Pupilo curioso intelectualmente:
- Ah, pelo amor de Deus: os assuntos giravam sempre em torno dos privilégios... De como são odiosos, mas vale tudo para mantê-los... A lógica embotada deles ...


Mestre com grande histórico de combate:
- É a direita mais obscura e nojenta... São todos uns atônitos... Mas voltando ao livro... Qual o título?


Pupilo curioso intelectualmente:
“Volumosos na Produção de Ruminantes”... Interessante, sabe? Aprendi muito... Você já imaginou algum dia que o uso intensivo de volumosos de alta qualidade através de forragem conservada, permite a redução de custos e o estabelecimento de sistemas de produção sustentáveis com menor dependência do mercado?


Mestre com grande histórico de combate:
- Você deve estar sob efeito de alguma coisa! Você não percebe que essa é uma das cartilhas deles? Você não vê que a destruição dessas propriedades, é justamente o que o “movimento” prega?


Pupilo curioso intelectualmente:
- Mas ... “a avaliação da composição mineral e as interações com o desempenho de animais em pastejo são fatores de fundamental importância” ... Só agora entendi isso em seu sentido mais profundo! Para mim foi como o estalo do Padre Vieira, de repente tudo fez sentido, uma palavra depois da outra...

Mestre com grande histórico de combate:
- Não acredito! Agora você ficou católico também! Só me faltava essa... Vou ligar para o comitê central e pedir a sua substituição aqui... Você está precisando de uma reciclagem!

Pupilo curioso intelectualmente:
- Será que eu podia tirar um xerox?


Mestre com grande histórico de combate:
- Vai me dizer que vai querer uma assinatura do canal rural?

Não ficar parado!

Mesmo que eu conseguisse escrever bem, tudo o que eu pensasse em escrever, alguém, antes de mim, já teria registrado, em prosa, poesia, teatro, cinema ou qualquer outro meio de comunicação possível ou imaginável.
As minhas tristezas, angústias, o que me aborrece ou o que me consola, aquilo que me alegra, minhas paixões, meus medos, minhas valentias, minhas ternuras, minhas grosserias (incontáveis), minhas certezas ou minhas incertezas, meus sonhos ou meus pesadelos, enfim qualquer sentimento ou argumento sobre o qual eu quisesse começar a escrever nunca seria inédito.
Meus pontos de vista, aqueles que sobraram, nem são meus. Foram incutidos em mim. De fora para dentro.
Concordo, também, que todos têm um filtro próprio. O filtro individual determina a maneira como cada um percebe e sente a realidade lá fora.
Até que pensando assim, sob essa perspectiva, o que eu conseguisse transmitir seria uma visão só minha e aí valeria a pena. Seria algo único.
Mas, por outro lado, pergunto: e esse filtro? De onde vem? Como adquiri? Nasceu comigo?
E já vou respondendo: não, ele também foi formado e, também, de fora para dentro. Moral, ética, religiosidade, enfim, toda formação individual segue os padrões impostos pela família, pelos amigos, pelo meio. E essa formação corresponde àqueles princípios em vigor na sociedade em que se insere.
Sou uma pessoa “civilizada” e meu filtro é conseqüência dessa minha educação.
Onde, então, está minha originalidade?



Tive um professor de matemática que repetia sem parar:
- “O mais importante não é a cultura nem a inteligência e sim o bom senso!”
(Nunca entendi direito o que ele queria dizer)
No entanto, não tenho dúvida que era uma visão matemática. E bem distante do meu mundo.
Acho que nunca tive bom senso! Sempre fui péssimo em matemática e, para falar a verdade, devo ter faltado em alguma aula muito importante. Ainda garoto tive uma experiência de certa forma traumática - quando me dei conta do infinito, do absoluto - e isso deve ter me afastado um pouco da matemática.
As opções que fiz, foram escolhidas diretamente no cardápio que me deram.
As ações que tomei foram reações aos estímulos externos que recebi. Tanto as “positivas” como as “negativas”, ambas estavam no mesmo cardápio.
Meus medos são ancestrais.
Porque fui educado em um meio latino para ser Homem, tenho que ser corajoso.
Minhas paixões são aquelas socialmente aceitáveis.
As angustias são químicas (Lexotan nelas!).
Minhas certezas foram sedimentadas por comodidade, mas com o passar dos tempos eu as venho perdendo e isso me incomoda.
O que foge ao padrão determinado pelo coletivo é o que me aborrece e me irrita.
Alegria e tristeza são estados de espírito alternantes e passageiros... portanto, banais.
Esse texto mesmo está muito longe de ser original.
Antes de mim, muitos, inumeráveis ociosos e pretensiosos, ocuparam seu tempo escrevendo alguma bobagem parecida. Uns, com muito mais graça, estilo, com argumentação mais articulada, cultura superior etc., outros, de forma mais simples, limitados, mas mesmo assim escreveram, e antes.
Não interessa, tudo já foi pensado, escrito, discutido, esmiuçado até o fim.
Nunca serei único, nem inédito em meus devaneios.
Posso até, por um tempo, achar que estou sendo novo, mas só por ignorância.
Por que registrar o óbvio?
Queria poder fugir do lugar comum, do clichê.
Contar uma história. Criar um conto. Um romance.
Mas, por que?
Para não ficar parado?
É, pensando assim talvez seja uma opção. Ficar parado não é bom.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A paz das Peônias

No princípio não me chamou muita atenção. Um fato curioso, é verdade. Mas, distante de minha realidade, longe de meus problemas. Sem muito que fazer, no entanto, quase que automaticamente, posicionei o mouse e pressionei o botão sobre o link que me levaria ao caso.
Na tela apareceu a seguinte noticia:

Dezessete peônias nascidas de sementes que orbitaram a Terra em 2002, a bordo da nave Shenzhou 3, começaram a florescer dois anos antes do que ocorre com as "terráqueas", segundo a edição desta terça-feira, 17, do jornal China Daily - "As peônias crescem também com mais vigor, talos mais grossos e óbvias características genéticas hereditárias", disse Sun Jingyu, especialista do Jardim de Peônias de Chaozhou, na província de Shandong.

Mais do que a curiosidade de saber qual a aparência de uma peônia que, pelo que me lembrava, jamais tinha visto, fosse ao vivo ou em fotografia; com a mente livre e vazia de qualquer atribuição e sem nenhuma obrigação momentânea, comecei a pensar naquelas sementes vagando na estratosfera, com a terra azul por cenário, sem o fator gravidade e, especialmente, envoltas no mais absoluto silêncio cósmico.
É misterioso o modo como se desencadeiam nossos pensamentos!
Em seguida me veio à mente um gesto que já fiz em varias ocasiões - e ainda hoje me pego fazendo às vezes se ninguém está vendo – quando me sinto acuado e sem saída, em situações difíceis: estico meus braços em direção ao céu e me imagino subindo como um foguete para bem longe, no além.
Sem qualquer controle sobre meus pensamentos, me vi filosofando: Será que as peônias ficaram mais fortes quando trazidas de volta, em razão desses momentos que tiveram longe de tudo, por terem vivenciado essa paz completa, mesmo que breve, mas plena? Será que se meu desejo de alçar vôo, nessa trajetória de fuga, fosse, por absurdo, atendido e se eu fosse como que abençoado por essa sensação de paz e plenitude, mesmo que breve, também eu voltaria mais forte para crescer? Será que tudo o que precisamos não é um momento só nosso, mesmo que breve?


PS: Abaixo, para aqueles que ficaram curiosos, uma ilustraçãode uma peônia que achei em um site sobre flôres.

Mas, essa é uma "terráquea"!