sexta-feira, 25 de julho de 2008

Chat

-Qual foi o livro que você mais gostou?
-Crime e Castigo.
-Por quê?
-Como assim por quê? Você leu?
-Estou lendo e soube que é o livro que você mais gosta.
-E você está gostando?
-Não. Justamente por isso que resolvi fazer a pergunta. Estou achando chato. Lento. Não entendo aonde o Dostoievski quer chegar. Todo esse questionamento interminável do Raskolnikov...
-E, então me permita uma pergunta: qual foi o livro que você mais gostou?
-Ah, eu gostei de muitos! Mas diria sem medo que um dos meus prediletos foi o Fernão Capelo Gaivota! Mas eu só vi o filme.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Parar de fumar.

Acendo um cigarro enquanto espero meu cachorro ter alguns momentos só dele. Solto a guia e digo:
- Vai, vai ser cachorro!
Ele abana o rabo e sai quase me arrastando (esse fecho da guia sempre me atrapalha), cheirando o não tão vasto gramado da pracinha de entrada da rua do meu pai.
Nesses momentos eu reflito. Fumo e reflito. Foi quando tive a inspiração de escrever um texto de incentivo a “parar de fumar”! Irônico, eu estava fumando. Mas pensei que pudesse impressionar uma frase, por exemplo, como:
“Pare de fumar e respire a vida!”
Porque, afinal, sinto a vida entrando toda vez que respiro. Talvez, fumar seja (em vez de só um mero prazer) um ato de covardia. Uma tentativa de diminuir um pouco o volume. Amortecer a intensidade que a vida atinge o indivíduo. E por aí fui vagando em meus pensamentos. Juro que estava completamente sóbrio e descansado.
O Bobby faz xixi em todas as árvores. Ele se acha um perdigueiro. Vai andando lentamente com o focinho grudado no chão. De vez em quando, para e começa a arrastar suas patas para trás, riscando o chão, sei lá porque, nunca entendi, acho que é um transtorno obsessivo compulsivo, ou toc, para os entendedores, daqueles realmente crônicos.
Será que eu vou parar de fumar, como prometi para a Helena no réveillon? Sem querer me pego contando quantos ainda tenho no maço. Tenho só mais 4 e ainda são só 8 e meia. Que sorte que eu trouxe minha carteira. Na volta eu passo pela banca e compro. Aquele chato do dono da banca não vende Galaxy. Lá vou eu fumar o Marlboro azul. Não é dos piores, mas eu gosto mesmo é de Galaxy.
- Bobby, vem! Junto, aqui! Vamos. Chega. Vem cá cachorro, pombas! Pronto, não vamos brigar, hein? Não vai ficar me puxando pra todo canteiro daqui até em casa! Quero passar na banca do bigode pra comprar cigarro! Como se chama o bigode? Sei lá, uma vez eu o chamei de bigode, ele respondeu.
As ruas, 3 anos atrás, eram menos movimentadas. Ou talvez as pessoas, 3 anos atrás, não estivessem tão estressadas como hoje! Tenho que segurar firme o Bobby para não ir atravessando sem olhar. E tenho que puxar forte quando é possível atravessar a rua. Sinto-me um “ET”. Todos de carro. Só eu a pé. As pessoas presas no trânsito, de vidro fechado, entre uma acelerada e outra, nos intervalos de buzinas aflitas e neuróticas, olham para mim e para meu cachorro com um misto de estranheza e admiração. Só eu estou a pé.
- Desculpa, não quero ser entrão, mas como é mesmo seu nome?
-Marcelo.
-Oi Marcelo. Dois Marlboros azuis, por favor.
- R$ 6, 50.