Mesmo que eu conseguisse escrever bem, tudo o que eu pensasse em escrever, alguém, antes de mim, já teria registrado, em prosa, poesia, teatro, cinema ou qualquer outro meio de comunicação possível ou imaginável.
As minhas tristezas, angústias, o que me aborrece ou o que me consola, aquilo que me alegra, minhas paixões, meus medos, minhas valentias, minhas ternuras, minhas grosserias (incontáveis), minhas certezas ou minhas incertezas, meus sonhos ou meus pesadelos, enfim qualquer sentimento ou argumento sobre o qual eu quisesse começar a escrever nunca seria inédito.
Meus pontos de vista, aqueles que sobraram, nem são meus. Foram incutidos em mim. De fora para dentro.
Concordo, também, que todos têm um filtro próprio. O filtro individual determina a maneira como cada um percebe e sente a realidade lá fora.
Até que pensando assim, sob essa perspectiva, o que eu conseguisse transmitir seria uma visão só minha e aí valeria a pena. Seria algo único.
Mas, por outro lado, pergunto: e esse filtro? De onde vem? Como adquiri? Nasceu comigo?
E já vou respondendo: não, ele também foi formado e, também, de fora para dentro. Moral, ética, religiosidade, enfim, toda formação individual segue os padrões impostos pela família, pelos amigos, pelo meio. E essa formação corresponde àqueles princípios em vigor na sociedade em que se insere.
Sou uma pessoa “civilizada” e meu filtro é conseqüência dessa minha educação.
Onde, então, está minha originalidade?
Tive um professor de matemática que repetia sem parar:
- “O mais importante não é a cultura nem a inteligência e sim o bom senso!”
(Nunca entendi direito o que ele queria dizer)
No entanto, não tenho dúvida que era uma visão matemática. E bem distante do meu mundo.
Acho que nunca tive bom senso! Sempre fui péssimo em matemática e, para falar a verdade, devo ter faltado em alguma aula muito importante. Ainda garoto tive uma experiência de certa forma traumática - quando me dei conta do infinito, do absoluto - e isso deve ter me afastado um pouco da matemática.
As opções que fiz, foram escolhidas diretamente no cardápio que me deram.
As ações que tomei foram reações aos estímulos externos que recebi. Tanto as “positivas” como as “negativas”, ambas estavam no mesmo cardápio.
Meus medos são ancestrais.
Porque fui educado em um meio latino para ser Homem, tenho que ser corajoso.
Minhas paixões são aquelas socialmente aceitáveis.
As angustias são químicas (Lexotan nelas!).
Minhas certezas foram sedimentadas por comodidade, mas com o passar dos tempos eu as venho perdendo e isso me incomoda.
O que foge ao padrão determinado pelo coletivo é o que me aborrece e me irrita.
Alegria e tristeza são estados de espírito alternantes e passageiros... portanto, banais.
Esse texto mesmo está muito longe de ser original.
Antes de mim, muitos, inumeráveis ociosos e pretensiosos, ocuparam seu tempo escrevendo alguma bobagem parecida. Uns, com muito mais graça, estilo, com argumentação mais articulada, cultura superior etc., outros, de forma mais simples, limitados, mas mesmo assim escreveram, e antes.
Não interessa, tudo já foi pensado, escrito, discutido, esmiuçado até o fim.
Nunca serei único, nem inédito em meus devaneios.
Posso até, por um tempo, achar que estou sendo novo, mas só por ignorância.
Por que registrar o óbvio?
Queria poder fugir do lugar comum, do clichê.
Contar uma história. Criar um conto. Um romance.
Mas, por que?
Para não ficar parado?
É, pensando assim talvez seja uma opção. Ficar parado não é bom.
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4 comentários:
Olá!
Se me permite opinar...(já opinando)
O fato do que pensa já ter sido pensado ou dito de alguma maneira, não significa que ele não deve ser expresso.
Porque pode ser que vc encontre pensamentos parecidos com seus, porém jamais serão OS SEUS, pensamentos com o toque da sua alma.
Nossa.. isso foi profundo!rs
Prazer...o/
Lembrando da biometria que em determinado momento nos apresentou, acho que você não deve se preocupar com originalidade. Seus filtros nos trarão sempre uma visão original: a sua visão.
Escreva! Porque isso é muito gostoso.
Abraços,
Nelson
Então, o q eu melhor aprendi na matemática foi meio isso q teu prof repetia e q interpreto como "o importante é questionar"... afinal o q ó bom senso? e na matematica, me perguntava o que é o x? era o resultado que eu precisava obter... nessa aula vc não faltou e aprendeu direitinho... questionas um monte... divagas um outro tanto e isso por mais q gere angustias pq as equações vão ficando mais complexas (além do x, tem o y...)e o vazio insiste em querer seu espaço, o importante é fazer parte... to achando otimo te encontrar partilhando todo esse movimento por aqui... e numa perspectiva de universo nem pedra fica parada, como vc conseguiria?Qto a originalidade ela esta no individuo, não existem 2 de vc... vc é unico nesse universo ocupando essa posição no espaço tempo, isso não tranquiliza?
Tem uma frase que vc gostou então eu vou deixar ela aqui postada em seu Blog: "Acho até que tem pesquisa que diz que quando a pessoa não faz nada, o cérebro vai atrofiando e a pessoa fica mais criativa e inventiva."
Por isso não importa para que vc esta escrevendo, mas ficar parado com certeza não é bom.
Beijos, Melina
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