segunda-feira, 12 de maio de 2008

Auto Posto

“Pobre só come carne quando morde a língua”. Eu me lembro desse ditado (bem popular, aliás) escrito no encosto do banco de cimento, do posto Barreirense da Rodovia Washington Luis. As crianças achavam engraçado e chamavam a nossa atenção. Tinham vários iguais: “Sogro rico e porco gordo, só dá dinheiro depois de morto”, (ou será que não era: “porco rico e sogro gordo”?) ““ Deus aperta, mas não enforca”, Pisão de galinha choca não mata o pintinho“, nós dávamos risada, lendo em voz alta para elas, imitando o sotaque caipira. Esses bancos ficam espalhados ao longo do terraço comprido que circunda a lanchonete e o restaurante. Existe até um mini mercado, loja de conveniência segundo a concepção local. O posto fica no município de Cordeirópolis, depois de Limeira e antes de Rio Claro. O dono, então, era um português jovem (será que ainda é o mesmo dono?), muito bem apessoado, simpático e que vinha me cumprimentar, toda vez que me via entrar em seu estabelecimento comercial. Admirava sua mulher, também bonita, sempre bem vestida e simpática. Faziam um bolinho de bacalhau que quase babo ao lembrar (será que ainda fazem?). Eu sempre tomava uma água de coco gelada. Mais uma idéia do português, inédita na época. E ele cobrava três reais cada coco. Em qualquer lugar você podia comprar um coco por, no máximo, dois reais. Mas eu pagava contente. Era uma parada relaxante e, depois de uma semana tumultuada e cheia de trabalho, a porta de entrada para o ambiente tranqüilo e aconchegante do interior de São Paulo. O meu descanso começava, propriamente ali. Sentia o clima e o ritmo alucinante da cidade de São Paulo, ficarem para trás.
A partir dali ia mais devagar. Colocava no toca fita uma música regional, um som de viola e relaxava! A segunda parte da viagem era bem diferente da primeira. Todos dormiam e eu dirigia olhando para o céu. Nas noites estreladas de lua nova ou nos luares iluminados que até sombra as árvores faziam. Estrelas cadentes riscando o pára-brisa. O gado branco no contraste do pasto verde escuro. Os infindáveis canaviais que ardiam com labaredas altíssimas que se viam longe...
No interior ajuste o seu ritmo. Os dias demoram mais a passar. O relógio anda mais devagar. O tempo é outro. E com horizonte, ar puro, silêncio, sol forte do meio dia, sentir uma chuva chegando, vento úmido no rosto, rede na varanda, passarinhos cantando, o farfalhar das copas, cheiro de flor e terra.
Sinto saudades do Auto posto Barreirense e dos fins de semana na fazenda.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu tambem me lembro do BARREIRENSE e dea fazenda, mas não sinto saudades.Foi bom mas passou.
Lila.

Anônimo disse...

Eu sinto muita saudade da fazenda São Benedito, de ir comendo biscoito de polvilho, fazendo sujeira no carro do papai. Me dá água na boca de lembrar do generoso queijo quente do Auto Posto Barreirense. Outro posto que merece um post é o Capelinha, que passávamos na volta á São Paulo. Papai era chamado de mineirinho porque tínhamos uma Elba com placa de Betim.