quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Eu cresci ouvindo histórias!

Caro amigo,

Essa sua contribuição foi muito boa. Gostei!

Com relação, especificamente, ao apelido que você me deu eu quero dizer que achei muito legal! Sabendo do sentimento de amizade que temos, acredito piamente que quando você pensou nele não foi de forma irônica. Por isso me sinto agradecido e


aceito!


Sem medo de ser mal compreendido por todos os demais eu me justifico.

Se ao mesmo tempo sou muitas vezes sangüíneo, agressivo e até cruel com aqueles que gosto; eu procuro ter atitudes nobres. Não me entenda mal!


Eu cresci ouvindo histórias!


Meu pai - uma figura difícil, (i) - como aquelas que existiam antigamente nos álbuns de figurinha e que vinham carimbadas; aquelas que, (ii) - no primário, a gente exibia todo orgulhoso quando tinha a sorte de encontrar e, no recreio, não punha no monte para “bater” com os colegas – achava que o caráter de um homem devia ser moldado pelos bons exemplos. Em momentos solenes, muitas vezes à mesa, tendo como público apenas minha mãe eu, ele, enquanto comíamos, narrava algumas passagens nobres de nossos antepassados, histórias sobre boa educação, honra,

 honestidade e outros valores não menos louváveis. Nem sei se as histórias eram verdadeiras, acho que nunca me preocupei muito com isso. Para mim eram histórias fantásticas! Em todos os sentidos. Fantásticas porque eu as achava bonitas e imaginava as situações, construía mentalmente os cenários, dava feições aos personagens, enfim, as produzia e elas me pareciam reais. Fantásticas, também, porque eram muito distantes da realidade do meu dia a dia, onde eu via pessoas que davam valor a coisas muito diferentes, em que esses, de honra, honestidade e bondade não faziam, absolutamente, parte da receita do sucesso.

Meu pai contava essas histórias atribuindo-as à nossa família e eu tinha orgulho, mas, ao mesmo tempo, me sentia responsável pela continuidade dessa extirpe de nobres. Esse outro lado às vezes me pesava. Não foi uma ou duas vezes que eu me peguei, diante de uma situação qualquer, pensando em como agiriam meus bisavôs ou meus avôs. E isso sempre foi complicado. O panorama parecia-me outro, muito distante do mundo que aqueles senhores de chapéu coco e bengala tinham existido. Como agiria meu avô (e meu bisavô) nesse mundo? Bem diferente do deles, imagino.

É engraçado, porque hoje eu entendo a real intenção! Papai tinha grandes expectativas com relação ao meu futuro! Na verdade era mais que isso, ele depositava em mim toda a sua esperança!

Ele perdeu um filho, meu irmão mais velho e, essa perda, marcou e mudou sua percepção do mundo, sobretudo sua fé em Deus!! Também marcou - e profundamente - seu modo de amar! Mas isso é uma outra história! Quem sabe, um dia, eu tenha a capacidade de escrever sobre ela!


Um grande e fraternal abraço!


sexta-feira, 25 de julho de 2008

Chat

-Qual foi o livro que você mais gostou?
-Crime e Castigo.
-Por quê?
-Como assim por quê? Você leu?
-Estou lendo e soube que é o livro que você mais gosta.
-E você está gostando?
-Não. Justamente por isso que resolvi fazer a pergunta. Estou achando chato. Lento. Não entendo aonde o Dostoievski quer chegar. Todo esse questionamento interminável do Raskolnikov...
-E, então me permita uma pergunta: qual foi o livro que você mais gostou?
-Ah, eu gostei de muitos! Mas diria sem medo que um dos meus prediletos foi o Fernão Capelo Gaivota! Mas eu só vi o filme.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Parar de fumar.

Acendo um cigarro enquanto espero meu cachorro ter alguns momentos só dele. Solto a guia e digo:
- Vai, vai ser cachorro!
Ele abana o rabo e sai quase me arrastando (esse fecho da guia sempre me atrapalha), cheirando o não tão vasto gramado da pracinha de entrada da rua do meu pai.
Nesses momentos eu reflito. Fumo e reflito. Foi quando tive a inspiração de escrever um texto de incentivo a “parar de fumar”! Irônico, eu estava fumando. Mas pensei que pudesse impressionar uma frase, por exemplo, como:
“Pare de fumar e respire a vida!”
Porque, afinal, sinto a vida entrando toda vez que respiro. Talvez, fumar seja (em vez de só um mero prazer) um ato de covardia. Uma tentativa de diminuir um pouco o volume. Amortecer a intensidade que a vida atinge o indivíduo. E por aí fui vagando em meus pensamentos. Juro que estava completamente sóbrio e descansado.
O Bobby faz xixi em todas as árvores. Ele se acha um perdigueiro. Vai andando lentamente com o focinho grudado no chão. De vez em quando, para e começa a arrastar suas patas para trás, riscando o chão, sei lá porque, nunca entendi, acho que é um transtorno obsessivo compulsivo, ou toc, para os entendedores, daqueles realmente crônicos.
Será que eu vou parar de fumar, como prometi para a Helena no réveillon? Sem querer me pego contando quantos ainda tenho no maço. Tenho só mais 4 e ainda são só 8 e meia. Que sorte que eu trouxe minha carteira. Na volta eu passo pela banca e compro. Aquele chato do dono da banca não vende Galaxy. Lá vou eu fumar o Marlboro azul. Não é dos piores, mas eu gosto mesmo é de Galaxy.
- Bobby, vem! Junto, aqui! Vamos. Chega. Vem cá cachorro, pombas! Pronto, não vamos brigar, hein? Não vai ficar me puxando pra todo canteiro daqui até em casa! Quero passar na banca do bigode pra comprar cigarro! Como se chama o bigode? Sei lá, uma vez eu o chamei de bigode, ele respondeu.
As ruas, 3 anos atrás, eram menos movimentadas. Ou talvez as pessoas, 3 anos atrás, não estivessem tão estressadas como hoje! Tenho que segurar firme o Bobby para não ir atravessando sem olhar. E tenho que puxar forte quando é possível atravessar a rua. Sinto-me um “ET”. Todos de carro. Só eu a pé. As pessoas presas no trânsito, de vidro fechado, entre uma acelerada e outra, nos intervalos de buzinas aflitas e neuróticas, olham para mim e para meu cachorro com um misto de estranheza e admiração. Só eu estou a pé.
- Desculpa, não quero ser entrão, mas como é mesmo seu nome?
-Marcelo.
-Oi Marcelo. Dois Marlboros azuis, por favor.
- R$ 6, 50.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Introspectivo


Algo leva a crer que nos momentos em que Judas (antigamente) explodia, hoje fica introspectivo.
Quer dizer: ele fica é quieto!
Isso talvez porque hoje ele sabe que (na maioria das vezes em que explodia), a razão, o motivo, a espoleta estava dentro e não fora. A opção de partir para ignorância, ou não, é feita internamente. Basta olhar para fora que, hoje, ele percebe como é melhor olhar para dentro. Na verdade, ele acha muito mais interessante.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Pela volta dos bidês!

Já há algum tempo eu venho assistindo calado à diminuição acelerada dos bidês nos banheiros domésticos brasileiros. Poderia me enveredar pelo caminho da argumentação de que, essa iminente extinção, é a queda de mais um dos símbolos que representam resistência ao capital imperialista americano. Que estamos correndo o sério risco de vermos por terra um importante símbolo de distinção contra o gosto duvidoso americano. Afinal, eu não poderia deixar de expor uma famosa e deliciosa estória familiar, que minha mãe sempre me contava. Ela dizia que uma vez, anfitrionando uma americana esposa de um cliente de meu pai, levou a dita senhora para conhecer a casa e, quando chegaram ao banheiro, a americana com ar de nítida curiosidade perguntou, apontando para o bidê:
- “Oh… how sweet! Is this to put the baby in?”
Ao que minha mãe, meio que pega de surpresa, respondeu:
- “No… it’s to put the baby out!”
Mas, não vou seguir por este caminho! Minha indignação, ou melhor, meu desgosto, ao constatar que o sumiço desse importante aparelho é coisa de mais ou menos dias, é, principalmente, sob o ponto de vista do conforto!
O bidê tem inúmeras conveniências. É uma das coisas mais úteis do banheiro. Assim, de cabeça, eu me lembro, por exemplo, de vários usos, fora, claro, o ortodoxo: de proporcionar, tanto às mulheres, como aos homens, o refrescante e consagrado “meio banho”.
Senão, vejamos:
· Para lavar e escaldar os pés;
· Como apoio de pé para cortar as unhas;
· Como assento enquanto seca o cabelo;
· Como revisteiro;
· Como cesto de roupa suja;
· Para deixar uma roupa de molho;
· Como reservatório quando há um aviso de falta d’água.
Enfim, essas conveniências são aquelas que me vêem agora, mas tenho certeza que cada um tem um uso particular, às vezes até reservado.
Por essas razões e, também, por achar que um banheiro sem bidê não tem o mesmo charme e, ainda, porque o fato de quererem deixar de fornecê-lo nas casas de banho modernas tem como um dos motivos a redução da área em metros quadrados desse importante cômodo de uma casa, que resolvi iniciar um movimento pela volta dos bidês.
Minha intenção é de iniciar já um abaixo assinado em favor da votação de um projeto de lei que determine a obrigatoriedade da previsão em planta de, no mínimo, um bidê por banheiro.
Você - que concorda comigo e, assim como eu, vem lamentando em silêncio esse triste acontecimento - convoco sua adesão!
Para formalizar sua inconformidade, favor deixar em “comentários” seu nome, endereço e número de seu título eleitoral.
Juntos, podemos mudar esse país!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sangue e sêmen

Chove! Tenho alguma dificuldade para dirigir. Preciso urgentemente trocar essa paleta do limpador.
Não acreditava mais que eu pudesse me apaixonar. Não, nessa altura do campeonato! Amor maduro é uma delicia de amor! Que intimidade declarada! Afeto profundo, transformador. Tanto foi que me transformou. Não vou mais conseguir levar essa vidinha que eu estava levando até hoje. Não depois disso que aconteceu. De outra parte, terminar meu casamento vai ser um inferno. Não tenho idéia de como vou dizer que tudo acabou. Mas acabou! Chega!
Chove muito e eu não estou vendo um palmo na minha frente. Onde foi que eu enfiei a flanela? A fumaça do cigarro embaçou todo o vidro.
Nossa, ela ainda está muito atraente! Que química, que tesão! E ela disse que pensou em mim esses anos todos. Conseguiu acordar alguma coisa que estava há muito tempo dormente em mim. Amar e ser amado, de novo, mais uma vez! Beijo com paixão...humm... que delícia! Mas tenho que conseguir terminar de uma vez. Não vou, nem quero continuar mais meu casamento. Casamento? Que tal: depressão conjugal?
Graças a Deus, finalmente, estou chegando. Hoje deve chover a noite inteira!
Já é tarde, todos devem estar dormindo. Espero que esteja tudo em ordem. Minha família é dependente de mim.
Mas, não, ao contrário, encontro luzes pela casa toda. Todos devem estar acordados.
Abro a porta e lá está ela, de pé no centro da sala.
- Onde você andava? Liguei atrás de você várias vezes. Seus amigos não souberam me dizer onde você estava. Na rua até essa hora, sem avisar ninguém! Estamos todos muito nervosos.
As crianças entram correndo e me abraçam.
- Pai onde você estava? Ligamos atrás de você na casa do tio e você não estava lá. A mamãe chorou!
Falo para eles não se preocuparem. Dou um beijo em cada um, mando-os dormir que já é tarde e que amanhã eles têm que acordar cedo para ir para escola, viro-me de novo para ela, digo que tive um dia difícil, preciso de um banho urgente e logo depois conversamos.
Tiro a roupa no banheiro, instintivamente olho para baixo e percebo a cueca manchada de sangue. Ela devia estar menstruada e não vimos. Não jogo a cueca no cesto de roupa suja. Preciso dar um fim nela. Agora não é mais uma simples cueca, é uma prova! Entro com a cueca no box e escondo atrás da vidraça. Ela entra no banheiro. Sem trocar qualquer palavra começa a remexer no cesto.
- Onde está a sua cueca?
- O que? Não estou te ouvindo. Respondo timidamente.
- Onde você colocou sua cueca? Não estou encontrando aqui no cesto.
Sua voz é de raiva e choro. É o sexto sentido feminino. Por que cargas d’água ela encasquetou logo agora com minha cueca? Digo que deve estar no cesto. Que joguei junto com a calça e a camisa, que ela me deixe tomar meu banho em paz e que assim que eu acabar a gente conversa. Ela sai batendo a porta.
Nem que eu quisesse inventar alguma mentira, agora não dá mais. Vou ter que enfrentar o leão já. Acabo meu banho sem vontade de sair dali. Se pudesse eu nunca mais saia desse banheiro. Enxugo-me lentamente e em especial o artista principal, meu pinto! Pego a cueca de trás da vidraça, coloco num saco plástico que escondo embaixo da pia, ainda sem saber como me desfazer daquilo, visto um conjunto de moletom velho, um tênis e vou até minha esposa, disposto a abrir o jogo, falar tudo, desde o começo até o fim.
Como terminar um casamento? Como dizer que vou embora? Que não posso mais, que acabou, que encontrei outra pessoa, uma paixão impossível de minha juventude, que bastou um simples olhar para que nós dois sentíssemos nossos corações acelerados e déssemos o beijo inevitável, que fizéssemos sexo, amor represado, incontido, de duas pessoas a procura de consolo mútuo... Que, enfim, estou amando outra.
Na sala, ela continua de pé. Olha em minha direção, mas tenho a nítida impressão que vê através de mim. Peço para que ela se sente e sento-me, estrategicamente, na poltrona ao lado. Sua figura me passa medo e compaixão. Tenho ao meu lado alguém destruído. Uma mulher ferida. Queria poder diminuir sua dor. Não queria que ela sofresse e, também, não queria outro escândalo. Como fazer dessa conversa séria e difícil, um diálogo civilizado entre duas pessoas bem-educadas? O silêncio começa a pesar insuportavelmente. Bom, se tiver que ser que seja, penso e falo:
- Eu estava com a Roberta. Uma antiga namorada que encontrei, por acaso, na casa de um amigo comum. Não planejamos nada, mas estamos apaixonados.
Seus olhos ficam estáticos, suas pálpebras tremem, sua feição é enigmática. Permanece muda! Eu, então, continuo:
- Olha! Eu juro que não fui procurar ninguém. Aconteceu! Só isso! Sinto muito.
Ela se levanta. Seu rosto se colore de vermelho. Quando penso que vai falar, sua voz é um grito:
- Mas você pensou em mim e nas crianças? Você, por um momento, pensou em mim? E eu? Você quer que eu simplesmente deixe de existir? E nós? Estamos casados há 12 anos! Doze anos, você sabe o que é isso?
Respondo sem pensar (quando ela grita, eu não consigo pensar)!
- Acabou! Nosso casamento acabou! Aliás, faz tempo. Não sei se você percebeu. Há muito não nos suportamos. Vivemos brigando. Discutindo por tudo. Estamos juntos ainda por que não temos condições financeiras para uma separação. Continuamos por causa das crianças. E, por favor, você poderia não gritar? Não digo pelos vizinhos, por que esses coitados devem estar acostumados, falo em nome das crianças que não precisam ouvir essa conversa.
- Ta bem. Você tem razão, não grito mais. Mas, como assim, acabou? Por causa de um ímpeto, de uma trepada com uma qualquer que você encontrou numa noite de chuva? E nós? E nós?
- Acabou. Não sei, acredito que você tenha uma capacidade de sofrer muito mais elástica que a minha. Eu não agüento mais nosso relacionamento. E não foi uma simples trepada com uma qualquer que eu encontrei numa noite de chuva. Eu me apaixonei. Juro, não acreditava mais ser possível, mas estou apaixonado. Acabou! Isso para mim é definitivo.
Ela se levanta e sai chorando em direção ao nosso quarto. Levanto-me também. A não ser pelo grito no meio da conversa, parece que consegui falar o que queria. Não foi exatamente um diálogo civilizado entre duas pessoas bem-educadas, mas, somando-se tudo, foi mais fácil que eu pensava. Vou ao quarto e vejo-a jogada na cama chorando com a cabeça enfiada no travesseiro. Acho que até mesmo como medida de auto-proteção, olho e não sinto nada. Nenhum sentimento. Saio, pego o saco plástico no banheiro, vou até a área de serviço, visto a coleira no cachorro e desço as escadas trotando, como que fugindo daquela atmosfera pesada.
Chove muito, ainda! O porteiro estranha que eu saia para passear com o cachorro, sem ao menos levar um guarda-chuva. Faz um comentário que não chego a ouvir, respondo com um “boa noite, obrigado” e saio porta afora. Molho-me inteiro. Ando devagar. Estou sozinho. Ninguém em sã consciência andaria nesse temporal. Passo por uma caçamba de entulhos. Sem pensar, abro o saco plástico e olho mais uma vez para minha cueca manchada de sangue e sêmen. Sinto uma angústia profunda. Sangue e sêmen, fluídos corporais que significam o fim e o começo, aqui representam, simultaneamente, um golpe de misericórdia em um casamento melancólico e a semente de uma nova fase em minha vida. Sinto medo! Como vou administrar toda a separação? Será que vou conseguir ficar com a Roberta? Jogo o saco na caçamba. Vai ser duro, mas um dia, tenho certeza, ainda vou dar risada com meus amigos, tomando cerveja e me lembrando dessa situação assombrosa. Tudo passa na vida.
O cachorro se sacode inteiro, jogando água para todos os lados. Preciso entrar, está chovendo muito!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Coisas de Coelho!

Clima tropical.

Coelho pensou em tomar um chá frio. Inácio, o filho, estava deitado em seu colo. Chamou a empregada e pediu que colocasse o menino na cama.

O pôr do sol estava esplêndido!

Todo céu tinha se coberto de um véu cor de rosa...

As nuvens formavam figuras e sua imaginação andava aguçada...

Desde que perdera sua mulher, levada pela doença (Coelho nunca mais se permitira nomear a moléstia que tinha consumido sua esposa), não tinha tido qualquer contato físico com outra mulher.

Acostumado à lida, Coelho, aos seus cinqüenta e cinco anos, sentia-se potente.


Notara, todavia, que, nos últimos tempos, o chá frio diminuira de efeito:

sentia atração pelas empregadas!