Aquele lugar no balcão é meu. Eu vi primeiro. Aliás, quando a senhora saiu ela olhou para cá, como que cedendo o lugar especialmente para mim. Não pense aquele bêbado que eu vou deixar. Apresso o passo. Derrubo uma garrafa no caminho. Não peço desculpas, mas chego primeiro. Agora tenho que alargar meu espaço. Encosto-me no homem que toma café com leite da minha direita. Devagarzinho empurro um pouco. Coloco meu jornal no balcão, delimitando minha área. Direita conquistada. Estico o braço querendo pegar o açucareiro à esquerda. Peço licença. Esquerda conquistada. Chamo o garçom. Ele não vem! Derrubo um copo do lado de dentro. Ele olha para mim. Peço desculpas, um pingado e uma média. Lembro-me que estou atrasado no trabalho. Engulo meu café da manhã sem sentir o gosto. Corro até o caixa com meu tíquete na mão. Entro no buraco do metrô empurrando e sendo empurrado. Formamos um só corpo no vagão. Subo correndo na escada rolante. Ando quase correndo por dois quarteirões. A fila para o elevador é muito grande. Vejo meu chefe e o gerente esperando. Já deveria estar sentado na minha mesa há mais de 40 minutos. É a quarta vez, só essa semana. Abro a pesada porta corta-fogo e subo trotando os seis andares. Entro ofegante na recepção. Vejo que o elevador está subindo. Tiro minha jaqueta, jogo na cadeira e ligo o computador. Maldito computador, demora um século para “inicializar”. Meu chefe vem em minha direção!
O monitor estampa: “bem-vindo”!
O monitor estampa: “bem-vindo”!
2 comentários:
Ainda bem que não tenho fome pela manhã, nunca me atrasaria por conta de um pingado. :-)
Me atraso porque sair da inércia pela manhã é um trabalho que demanda tempo, só tempo...
Abração
Lembro que você me contava que quando chegava atrasado no trabalho já chegava sem paletó, como se estivesse há tempos na mesa e tivesse ido resolver algo no andar debaixo. Gostei do texto, todos passamos por isso, é universal
beijos
Mi
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