O véu entre a consciência e a semiconsciência é, às vezes, de um tecido de tal maneira delgado que uma grande parte da vida, acordado, passo imerso em meus devaneios e, para mim, a semiconsciência é, muitas vezes, mais real que a consciência.
Os registros mentais que guardo de momentos de meia consciência são ao mesmo tempo, por um lado confusos, se considerados sob um prisma objetivo e lúcido, mas, por outro são claros, até lógicos, se analisados no contexto de vida que reservei para mim. O enredo é longo. As causas se perderam no passado.
A consequência mais nítida para um observador externo, todavia, começou com a minha incapacidade de olhar no rosto de qualquer pessoa. De início até lutei contra essa compulsão. Fazia força para levantar os olhos, mas depois de sucessivos desmaios, desisti.
No momento que minha visão alcança o rosto da pessoa, o branco dos olhos do meu interlocutor como que explode e tudo vira um enorme e infinito branco. Invariavelmente acordo no chão.
Aos poucos fui me acostumando.
A fim de não detonar essa bomba interna, protegi-me restringindo meu mundo ao chão. Os personagens que preenchem minha vida, desde então, são aqueles que vivem no nível do chão. Com o decorrer do tempo desenvolvi uma grande habilidade para analisar as pessoas pelos pés e pelo tipo de calçados que usam.
Assim como um cego consegue situar-se e andar por ruas movimentadas, aguçando seus outros sentidos, eu, também, de certa maneira um deficiente visual, acredito ter alcançado um certo equilíbrio e permito-me dizer que levo uma vida normal, na medida do possível, e, em alguns períodos, chego a ser quase feliz nessa minha condição.
Mas naquele dia esse quase equilíbrio desmoronou!
Mas naquele dia esse quase equilíbrio desmoronou!
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